Grafite em muro do Rio de
Janeiro, que traz imagem do jogador Neymar segurando uma arma, acompanhada de
uma frase de Napoleão Bonaparte: "o maior perigo se dá no momento da
vitória"
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Duas em cada três pessoas
mortas nos países das Américas são assassinadas com armas de fogo. No Brasil, o
índice é ainda maior, com 70% das mortes. Segundo estudo divulgado nesta
semana, as armas de fogo foram utilizadas em 41% dos 437 mil homicídios no
mundo em 2012. A facilidade de acesso e a grande circulação de armas de fogo no
país destacam o Brasil nessa tendência que se tornou marca da violência
homicida, segundo o "Estudo Global sobre o Homicídio 2013", divulgado
pelo Escritório sobre Drogas e Crime das Nações Unidas (UNODC, na sigla em
inglês).
No Brasil, segundo o Anuário
Brasileiro de Segurança Pública (referência da ONU para o estudo), esse índice
é ainda maior e chega a 70% do total. Em 2013, 50 mil pessoas foram mortas no
país, segundo o levantamento da ONU, o que representa que 35 mil mortes foram
por arma de fogo.
O índice brasileiro ainda
varia de Estado para Estado. No mais violento dos Estados do país, Alagoas, por
exemplo, o índice de mortes por armas de fogo chegou a 80% do total em 2013,
conforme relatório da Secretaria de Estado da Defesa Social.
O índice global, porém, esconde
diferenças marcantes e que apontam para concentração em uma única parte do
mundo desse tipo de crime. As Américas são o único estrato do estudo da ONU no
qual as armas são o principal meio causador de mortes.
Enquanto nas Américas esse
índice chega a 66%, na África --segundo continente mais violento-- apenas 28%
dos homicídios são praticados com arma de fogo. É o mesmo índice da Ásia. Nos
dois casos, o grupo que inclui uso de objetos contundentes, envenenamento e
violência lidera as estatísticas. Na Europa, o índice de assassinatos com arma
é de 13% e na Oceania chega apenas a 10% --único continente onde as mortes por
arma branca ficam à frente.
Causas
Para o pesquisador e
coordenador do "Mapa da Violência", Julio Jacobo Waiselfisz, os dados
podem ser explicados, em parte, pela permissividade com as armas de fogo.
"Há uma enorme circulação dessas armas e interesse comercial nas Américas.
Um dos grandes exportadores de armas de fogo é o Brasil, que é quem fornece
para os países da América Latina", afirma.
O pesquisador também diz que
há nos países latino-americanos, em especial no Brasil, uma cultura de
violência que incentiva o uso da arma. "Isso vem desde o período colonial,
no qual ninguém valoriza a vida humana, e a América Latina foi um dos países
que mais tardiamente aboliu a escravatura. Nesse contexto, a vida tem muito
pouco valor, se mata por muito pouco", afirma.
O pesquisador diz ainda que as
armas chegam às mãos dos criminosos de várias formas. "Há no Brasil uma
enorme quantidade de armas em circulação. Além disso, existe uma distribuição
interna de armas de fogo ilegais, que nutre toda bandidagem, fora aquelas que
deveriam ser exportadas, mas que ficam no país".
Preocupação mundial
Para a ONU, o comércio ilícito
de armas de pequeno porte é um "sério problema" e requer uma
"ação global." "Em todo o mundo, as populações civis são reféns
da violência, de conflitos e de crime. Eles são, muitas vezes, aqueles que
sofrem o mau uso de armas por grupos armados, incluindo grupos criminosos
organizados", diz o estudo, citando as Américas como maior preocupação.
Segundo o levantamento, porém,
nos continentes com menor violência, em especial a Europa, as armas de fogo
regularizadas são mais utilizadas para crimes domésticos, ao contrário das
Américas, onde armas matam nas ruas.
"Estudos realizados em
países de alta renda, que tendem a ter níveis mais baixos de homicídio,
revelaram uma forte correlação entre a disponibilidade de armas nas taxas de
homicídios domésticos e feminino, mas uma correlação ligeiramente mais fraca de
taxas de homicídio", diz.
Apreensões e desarmamento
No Brasil, os dados de
apreensões de armas de fogo são feitos separadamente pelas polícias. Em São
Paulo, por exemplo, a Secretaria de Segurança Púbica aponta que 18.844 foram
apreendidas no ano passado. Em Alagoas, Estado mais violento, mas com apenas 7%
da população paulista, esse número foi de 2.197 em 2012.
O Brasil tem, em andamento, a
Campanha Nacional de Desarmamento, que indeniza há 10 anos qualquer cidadão que
queira se livrar de sua arma. Segundo relatório da Secretaria Nacional de
Segurança Pública, 650 mil armas foram recolhidas desde o início da ação, em
2004.
As armas retiradas de
circulação não chegariam a 5% do total existente no país. Segundo estimativas
do Mapa do Tráfico Ilícito de Armas no Brasil, de 2011, da ONG (Organização
Não-Governamental) "Viva Rio" existem 16 milhões de armas circulando
no país.
Uol
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